O diretor René Sampaio, oriundo
da publicidade, escolheu estrear na sétima arte com uma baita responsabilidade,
adaptar para as telas a cultuada música de Renato Russo, “Faroeste Caboclo”.
Diante de tamanho desafio, o que o cineasta estreante apresenta ao público é um
filme de qualidade à altura da obra adaptada.
Pela
proximidade da estreia dos dois filmes, não há como não comparar “Faroeste
Caboclo” com “Somos tão jovens”. O maior acerto de Sampaio e dos roteiristas Marcos Bernstein e Vitor Atherino foi não se deixarem
intimidar. Não se furtaram em mostrar a sua interpretação da letra da música e
fizeram algumas alterações que deixaram o longa mais dinâmico e mais realista. Diferente
de Antonio Carlos da Fontoura e do mesmo Marcos Bernstein que fizeram da cinebiografia de Renato Russo um filme tradicional demais, pouco
ousado e aquém do objeto cinebigrafado. René Sampaio transforma sua obra num
longa que mistura faroeste, drama e romance.
Outro
grande acerto foi o elenco. Fabrício Boliveira, no papel do protagonista João
de Santo Cristo e Felipe Abib que vive o grande malvado Jeremias entregam ao
público interpretações mais do que convincentes. Não fica atrás também a atriz
que vive a famosa Maria Lúcia da música. Isis Valverde atua de maneira
competente e forma um par romântico com Boliveira de muita química. As atuações
de Antônio Calloni e de Cesar Trancoso em papéis secundários também merecem
elogios.
A
fotografia é outro ponto bastante positivo. Consegue aliar com competência momentos
de certo toque poético, como no início do filme, por exemplo, e de grande tensão
como o já sabido final trágico que se dá na forma de um clássico duelo de
faroeste. Final que acertadamente se mostra menos midiático e espetaculoso do
que a música relata.
A
escolha de Fabrício Boliveira como o
protagonista também deixa claro o caráter racial do longa. Enquanto a música
apenas sugere, tanto na letra quanto no título uma mestiçagem, o filme sai do
subentendido para explicitar um Santo Cristo realmente negro, enfrentando a discriminação
de autoridades e da classe média brasiliense.
Se
“Faroeste Caboclo” não chega a ser uma grande obra prima, pode ser considerada
uma baita estreia com pé direito para René Sampaio. Fãs do cultuado Renato
Russo com certeza não terão muito do que reclamar. É só assistir ao filme e
sair da sala cantando a música que acompanha os créditos ao fim da sessão.